segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Crítica - O Bom Dinossauro

A amizade e a importância da família já são temas recorrentes nas animações da Disney Pixar. O seu primeiro longa, Toy Story, lançado lá em 1995, já chegou apresentando em sua mensagem o valor de um amigo e nos trazendo a canção mais conhecida dentre suas animações: Amigo, Estou Aqui. Em O Bom Dinossauro não é diferente. Temos a presença de um personagem que logo se vê ao lado de outro, que não pensa e não age como ele, mas isso não é empecilho para que uma bonita relação surja.

Arlo pertence a uma família de dinossauros herbívoros, Diplodocus para ser mais exato, e é o único desprovido de tamanho e habilidades. Enquanto seus irmãos, Buck e Libby, são cheios de talento e ajudam nas tarefas domésticas mais pesadas e trabalhosas, Arlo é apenas um pequenino dinossauro medroso que ainda não consegue alimentar as aves. E é justamente por não ser capaz de seguir adiante com suas tarefas que ele acaba conhecendo Spot, um garotinho selvagem. Nessa realidade os humanos e pequenos mamíferos são representados como criaturas do mato e os dinossauros são mais "civilizados" (na medida do possível, é claro). Essa diferença de culturas e a dificuldade de diálogo são fatores importantes para o desenvolvimento do carinho inocente que brota entre os protagonistas. Infelizmente é uma das poucas coisas que se desenvolvem na animação. Os personagens não são aprofundados e não há tempo de se identificar com eles, exceto por Arlo e Spot, que obviamente possuem mais tempo em tela. Outros muito interessantes como Butch, o líder do trio de T-Rex, acabam não tendo a atenção necessária para entendermos sua história e suas motivações na trama. Isso acaba tornando o roteiro raso, o que não deveria acontecer. Tratando-se de uma temática muito explorada pela Disney Pixar, deveria haver um diferencial na história.

Esse diferencial pode não estar no roteiro, mas certamente pode ser encontrado no visual. O Bom Dinossauro é de longe a animação mais bela da Pixar. A temática é batida, mas a qualidade e o capricho dado a cada cenário torna este longa muito especial no quesito estética. A fotografia é lindíssima e muitas vezes temos a sensação de que os personagens, mais cartunescos, foram inseridos em paisagens reais. Destaque para os detalhes criados para representar a água, estão de parabéns. Tudo isso em harmonia com uma das trilhas sonoras mais bem trabalhadas da produtora. Violinos e flautas de bambu foram combinados para nos trazer momentos embalados por temas eruditos e até mesmo indígenas. É possível sentir a selva em seus ouvidos apenas ouvindo a instrumentação. Outro aspecto que agrada aos ouvidos é a dublagem. Eu vi apenas a versão legendada, mas as vozes em inglês são bem naturais e convencem o telespectador, passando sentimento.

Apesar dos deslizes no desenvolvimento é impossível não identificar a alma Disney presente no longa. E não me refiro apenas à forte amizade já mencionada anteriormente, mas à toda analogia de seus personagens. O Bom Dinossauro pode ser uma versão pré-histórica e menos memorável de O Rei Leão. As paisagens naturais (Savana Africana), o socialização formada com uma espécie diferente (Timão e Pumba), a mensagem trazida pela ausência de uma figura paterna (Mufasa), até mesmo o antagonismo dos Pterodáctilos pode ser associado às hienas. Uma pena que as comparações parem por aí.

Foi bom ver a Pixar saindo da zona de conforto e investindo em novas tramas, deixando um pouco de lado as continuações. Mas dentre as novas investidas, esta ainda não foi capaz de superar a experiência proporcionada por Divertida Mente. O humor, geralmente ponto forte da produtora, também é um pouco sem sal. Por mais incrível que pareça, o drama acaba se sobressaindo. Mas isso não tira a diversão de O Bom Dinossauro, que é bonito e cheio de ternura, mas aquém do nível Disney Pixar.

Nota:

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