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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Crítica - Os 8 Odiados

O gênero faroeste (carinhosamente chamado de Bang-Bang) dominava os cinemas ao fim dos anos 50 e fez um grande sucesso durante toda a década de 60. Aos poucos essa temática foi perdendo seu brilho e dando lugar a um mundo de ficção e fantasia. Mas não podemos esquecer de Quentin Tarantino, um homem com o dom de trazer à superfície gêneros e métodos antes considerados quase extintos, recuperando seu encanto. Isso tudo sem perder a classe tradicional da sétima arte e sem abandonar velhos hábitos (e com uma grande dose de trash).

Quando Django Livre foi lançado em 2013, Tarantino teve em mãos uma trama faroeste muito rica que lhe garantiu o Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original. Até mesmo uma HQ foi criada baseada no filme. Agora é a vez de Os 8 Odiados assumir as rédeas do tema e assegurar de que ele continua sendo bem representado por Quentin.

Que o diretor figura entre os mais visionários, ousados e sanguinários já é de conhecimento geral. Ele sabe como ninguém retratar a violência em seus filmes sem que pareça gratuita. A violência é nativa da trama, faz parte dela, é fluida e natural. O banho de sangue continua ali, mas você aceita por que Quentin Tarantino estabelece isso como um ponto neutro de sua narrativa. É uma peça do seu quebra-cabeças. Em Os 8 Odiados a ousadia beira à insanidade. Não que isso não exista nos outros filmes, mas aqui é feita com tanta perspicácia e facilidade que faz o telespectador pensar se deveria estar mesmo se divertindo com aquilo. Não há o medo de abordar a violência contra a mulher (de forma mais robusta que em Kill Bill), de frases e momentos indigestos, não existe o pesar e muito menos a insegurança de ultrapassar limites. E isso é algo bom.

Toda a primeira parte do longa é recheada de diálogos, o que já é uma marca registrada do diretor. Mas Os 8 Odiados peca ao se atrasar demais nisso, tornando-se arrastado e cansativo em alguns momentos. Talvez isso não importe tanto pelo fato do brilhante trabalho do elenco (com destaque para Jennifer Jason Leigh, em uma atuação surreal na pele de Daisy Domergue), que encontra-se em sintonia durante todo o filme. Cada um ali está bem afiado e sabe seu papel, até mesmo Channing Tatum, geralmente criticado por sua falta de carisma em cena. Vale ressaltar a presença de Tim Roth como Oswald Mobray, que aqui tem o papel que outrora pertencera a Sr. Schultz em Django Livre. Personagem educado e simpático, destoando da educação rústica proveniente da cultura local, Mobray é aquele que consegue dialogar de forma polida e civilizada, sem o tom ameaçador e o sotaque carregado do sul americano (até mesmo por sem inglês).

No entanto, a grande sacada é justamente transformar seus personagens em peças em um jogo de xadrez. Todo o processo lento e enfadonho que permeia o filme torna-se uma macabra reviravolta. E é essa reviravolta, somada ao elenco, que salva o roteiro de ser totalmente tedioso. Se agarrar nisso é onde erra Tarantino, que tenta usar situações divertidas em meio ao caos para distrair seu público enquanto o grande momento não chega. É como se tudo não passasse de um show de abertura.

Em questão de cenários, este pode ser considerado o longo mais simples de Quentin. Boa parte da trama se passa em uma cabana, com poucos momentos em meio à neve. Isso economiza tomadas com belas fotografias externas, que é o ponto alto do diretor em filmes de época. Uma pena, tendo em vista que o período de inverno renderia ótimas tomadas.

Mas se por um lado o roteiro escorrega ao depender de um artifício para manter o interesse da audiência, o mesmo não pode ser dito da trilha sonora. A lindíssima e bem composta trilha do italiano Ennio Morricone, especialista em filmes faroeste, consegue variar entre e o belo o sombrio, quase próximo dos filmes de terror setentistas. As músicas combinam com o visual antiquado do filme, entrando em sintonia com as fontes que estampam o nome da produção e nos fazem viajar no tempo.

Os 8 Odiados tinha todos os elementos para ser o melhor filme de Quentin Tarantino: um excelente elenco, uma trama coesa, momentos polêmicos, mistérios, reviravoltas, personagens que não são o que parecem e trilha sonora competente. Mas o roteiro infelizmente não aproveita esses elementos e acaba demorando a se tornar verdadeiramente interessante. Por ser muito longo, o telespectador espera que o desenvolvimento seja a passos cautelosos, mas o filme erra por não compreender isso e acabar justamente quando a atenção do público foi captada. Não trata-se exatamente de um filme ruim, mas que não soube se aproveitar de suas qualidades.

Nota: